Proposta segue para o Senado e deve ser sancionada para promover a qualidade da Educação de forma equânime.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (21), em dois turnos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 015/15) que torna permanente o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) e aumenta a participação da União no financiamento da educação infantil e dos ensinos fundamental e médio.
“Essa foi uma vitória dos educadores deste país, dos movimentos sociais, dos trabalhadores e trabalhadoras da Educação, estudantes e de todos aqueles que se preocupam com a educação, e a educação pública, no país. Há muito tempo lutamos para que o Fundeb se tranformasse em uma política de Estado, que independe de governos, e isso só trará benefícios à qualidade do ensino no Brasil”, destaca a professora da Faculdade de Educação da UFRGS e diretora de Comunicação da ADUFRGS-Sindical, Sônia Mara Ogiba (foto).
A proposta, que - segundo a relatora, deputada Professora Dorinha Rezende (DEM-TO), foi construída ao longo dos anos com os atores envolvidos na educação, como sindicatos, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, etc – foi aprovada por 492 votos a 6, além de 1 abstenção. A PEC seguirá, agora, para apreciação do Senado e, se aprovada, para sansão presidencial.
Para o coordenador do GT-Educação do PROIFES-Federação, Gil Vicente (foto), a vitória tem um significado ainda maior diante do contexto político atual, no qual não se acreditava na possibilidade de um acordo entre os diversos partidos que compõem o parlamento. Além disso, ele acredita que a votação expressiva indica que a matéria deve passar tranquilamente pelo Senado e ser sancionada sem dificuldade. “Com esse placar próximo à unanimidade, dificilmente haverá espaço para mudanças no texto”, acredita.
Segundo Gil Vicente, os dois pontos principais da PEC dizem respeito, primeiro, à transformação do Fundeb em uma política de Estado. “Isso é muito importante, pois o Fundo estava condicionado ao compromisso de cada governo com a Educação. Agora, não tem data para encerrar”, afirma. E, em segundo lugar, ao aumento do percentual de participação da União no Fundo, que era de 10% e chegará progressivamente a 23%. “Isso nos dá um horizonte muito positivo, ainda mais que 70% do valor será destinado a pagamento dos salários”, destacou. Pelo texto, a participação da União terá início em 12% em 2021, 15% em 2022 e crescerá paulatinamente até atingir o patamar de 23% em 2026.
A inclusão na proposta do parâmetro Custo Aluno-Qualidade (CAQ), que, apesar de previsto no Plano Nacional de Educação (PNE), levantou discussões no plenário, é outra importante vitória, segundo Gil Vicente. “A constitucionalidade do Custo Aluno-Qualidade vai permitir que o investimento em educação no Brasil seja compatível com outros países em termos de distribuição per capita”, enfatiza.
A auditora fiscal do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, Débora Brondani (foto), comentou a aprovação do Fundeb. Para ela, o novo Fundeb, se sancionada a proposta da Câmara, incluindo o cálculo do CAQ, vai promover a equidade.
“Temos muita diferença nos quadros dos municípios. Fizemos um levantamento em 2018 que indicou que a maior receita entre os municípios do Rio Grande do Sul chegava a 10,7 mil reais e a menor, a 778 reais, isso se dividirmos a arrecadação de impostos totais pelo número de habitantes. Então, a possibilidade destes municípios com menor arrecadação destoa muito do restante do estado. Por isso é muito importante que se considere cada município e não o estado como um todo”, explica.
Débora também enfatiza que se tentou estabelecer que 70% do Fundo para pagamento dos profissionais da Educação Básica seria o teto, mas que a mobilização da sociedade e de alguns parlamentares conseguiu que o percentual fosse aprovado como mínimo, podendo os entes federados investir mais do que 70% em salários. “Fizemos um levantamento no Estado e 283 municípios já estão com mais de 80% do Fundo aplicado para pagamento dos seus profissionais. Reduzir esse valor seria um retrocesso”, esclarece.
Para Débora, mesmo que “várias questões da Proposta dependam ainda de regulamentação”, manter o Fundeb como uma política permanente e destinada apenas à educação pública é fundamental. “O caminho ainda será longo, assim como foi com o PNE, que não se conseguiu alcançar até hoje. Mas o importante é que todas as questões (que garantem a destinação dos recursos à educação básica e pública) estejam previstas na Constituição”, conclui.
Principais mudanças no Fundeb
Veja o que muda no Fundeb pela proposta aprovada na Câmara e enviada ao Senado Federal:
Fonte: Agência Câmara de Notícias